domingo, 22 de fevereiro de 2009

...páginas do Diário de Crimério Julius...

O início da minha vida já foi algo de pitoresco. Meu pai se encontrava em pleno conflito com os exércitos de Napoleão enquanto minha mãe sofria ao me dar a luz num campo de batalha. Daí para frente fui resguardado da guerra sendo confiado a uma tia que vivia na Baviera. Quando mais velho, minha mãe retornou me presenteando com a espada do meu pai sem me deixar esquecer que era necessário lutar pelo futuro da Nova Europa.

Na ocasião de minha juventude fui até a França conhecer a pátria que matou o meu pai. Mas a situação já era outra, a guerra já havia passado e tudo já fazia parte de uma história de mais de dezoito anos. Na Baviera minha mãe havia me obrigado a tomar a espada como melhor amiga e a esgrima era a minha habilidade mais elogiada por todos. Além disto sempre procurei ter como valores o equilíbrio e a sagacidade, necessários para a boa atuação da inteligência, me tornando hábil em discurso. Foi assim que na França, estando residido lá por três anos, consegui fazer do meu sotaque extrangeiro algo charmoso e frequentar os grande boulevares e cafés da magnífica Paris. Ao me enamorar da filha de um poderoso comodoro tive acesso aos bailes da corte de Napoleão III. Minha vida era basicamente a de um rufião enquanto tentava me tornar um importante escritor. O que tinha por atividade diária - após algumas horas dedicadas a pena - era um passeio pela cidade onde me encontrava, visto que estas saídas, geralmente noturnas, me enchiam de inspiração para crônicas cotidianas sobre aquela estranha cosmópolis.

Talvez os conhecimentos adquiridos sobre aquele povo, durante minhas perambulações, tenham sido um fator decisivo para que conseguisse ingressar como agente do governo francês. Numa destas estranhas noites de lua, a minha enamoradas Louise me conduziu até um baile na corte do imperador, pois o seu pai estaria presente no baile e ela pretendia me proporcionar mais contato com ele. Foi muito esquisito quando depois de algumas taças de vinho, já um tanto leve, observei de soslaio um homem com uma estranha tatuagem na mão. Eu distraidamente o acompanhei com os olhos enquanto todos no baile se preparavam para o grande brinde e a bandeja com a taça de ouro do imperador já se dirigia ao centro do acontecimento. Foi então que senti nos olhos do homem - que me percebeu o observando - o medo, uma gota de suor brotou rápida na testa dele enquanto procurava passar entre os convidados indo em direção ao pátio. Eu me voltei para o centro da festa do qual não estava muito longe, onde o imperador apanhava a taça para tomá-la num brinde. Foi quando a minha cabeça lentamente reconstituiu os movimentos daquele homem, e o que ficou claro é que no momento em que pude ver na mão dele a tatuagem era exatamente o mesmo em que ele ficara desvigiado ao lado da taça do imperador. Os franceses não costumavam usar tatuagem, muito menos entre os frequentadores da corte. Eu gritei instantes antes do imperador tomar o gole de brinde e antes que alguém pudesse me parar invadi o centro da festa dando-lhe um tapa na taça, arremessando-a para longe. Todos me cerraram e as espadas se puseram rápido em meu peito quando eu tentava me explicar. "Está envenenada", eu disse. Um suspiro de susto seguido de um grande burburinho tomou conta do ambiente enquanto o imperador me olhava perplexo. Solicitou a uma criada uma colher de prata e apanhando parte do vinho que no chão percebeu em alguns segundo que a colher escurecera assustadoramente. As espadas se acalmaram e o imperador me colocou sob observação durante 40 dias. A próxima festa em que fui foi onde comemoraram discretamente, entre os membros mais importantes do governo francês, a minha condecoração a agente do governo. Não se trata de um cargo exatamente secreto, mas eu diria que discreto, muito discreto.

Foi assim que comecei a servir a França mesmo sabendo que o meu pai tombou pelos canhões desta poderosa nação...

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Bem Vindo

a Casa dos Julius